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Gastronomia

Como nos diz António Maduro, “ao longo dos séculos XVII e XVIII verifica-se uma revolução agronómica no território dos coutos de Alcobaça que instala um novo complexo agrário. Os incultos, matagais e florestas são apropriados pela arte agrícola. Definem-se áreas culturais de sequeiro e regadio, com o arroteamento da mata de folhosas nas baixas da Serra dos Candeeiros para plantações extensivas de olival ou com a drenagem dos marnéis da Maiorga, Valado dos Frades, Cela e Alfeizerão criando condições para a cultura intensiva do maiz em consociação com o feijão, cultura essa precedida de uma cultura forraginosa. Para proteger o milho grosso que viceja nos campos, e um pouco mais tarde o arroz, a faixa litoral recebe um coberto de pinhal que serve de tampão aos ventos mareiros, impede o avanço dunar, fornece madeiras e matos para adubo das terras. Os pomares e as vinhas multiplicam-se nas encostas soalheiras, em socalcos murados quando o declive é considerado excessivo, deixando as fruteiras libertas de culturas de consociação, nomeadamente os cereais praganosos tão nefastos pela disseminação de afídios. A intensificação cultural articula-se com a estabulação de gado e os animais de tração proliferam nas aldeias. Mais gado para o trabalho na lavoura e uma mobilização mais eficaz da terra, assim como maior disponibilidade de adubos, resultam, de facto, em maior produtividade. A economia ganha escala e o domínio senhorial mercantiliza-se. O pousio que fazia perder área agrícola é finalmente superado graças às novas culturas, afolhamentos, sistemas de rotação e consociação (Maduro, 2011; Maduro, 2018a). Esta história de sucesso agrário e de acumulação de capital repercute-se, naturalmente, na mesa monástica e no esplendor dos banquetes com que recebem ilustres convivas nacionais e internacionais.”

(Livro, “Requinte e Paladar – Gastronomia Monástica de Alcobaça”, de António Valério Maduro, páginas 28 e 29)

 

TRADIÇÃO GASTRONÓMICA DE ALCOBAÇA
LEGADO DOS MONGES AGRÓNOMOS

Os monges cistercienses, também conhecidos por monges agrónomos, administraram o território dos antigos Coutos de Alcobaça. Junto das gentes locais imprimiram o saber fazer numa vasta região de cariz fortemente agrícola. Foi este conhecimento, trabalhado em terrenos férteis e propícios à produção, entre outros, de legumes, cerais, azeite, vinho e fruta, que tornou este território na mais importante região pomícola do país. A abundância e qualidade da saborosa e variada fruta (como as peras, maçãs e pêssegos) e o vasto conjunto de leguminosas, ainda hoje aqui produzidos, é disso testemunho.
Além da fruticultura, onde se destaca a Pera Rocha e a Maçã de Alcobaça também a os Doces Conventuais representam uma forte marca gastronómica do concelho, com destaque para as Cornucópias, as Delícias de Frei João, Pudim de Ovos dos frades do Convento de Alcobaça, Queijadas do Bárrio, Gradinhas de Alcobaça, Tachinhos à Dom Abade e o Pão de Ló de Alfeizerão.
Mas não é só através da doçaria que a gastronomia regional se exprime nesta zona. Tradicionalmente rica em matas pejadas de caça que se entremeavam com os fecundos terrenos de cultivo, junto de um mar que convida à pesca e ao comércio, cursada por rios e ribeiros de águas límpidas, Alcobaça sempre foi terra de fartura, bem conhecida, ainda hoje, pelas suas frutas, pelo vinho, pelo azeite e pelo pão.
Ao longo do século XX surgiram algumas especialidades que se tornaram autênticos cartões de visita gastronómicos de Alcobaça, como é por exemplo o Frango na Púcara. Mais recentemente tem vindo a ganhar notoriedade a carne de Porco Malhado de Alcobaça, uma das únicas três espécies de suínos autóctones de Portugal.
Em termos da produção de vinhos e licores, destaque para o tradicional Licor de Ginja de Alcobaça e para um forte ressurgimento dos vinhos de Alcobaça, fruto do trabalho efetuado por vários produtores, mas essencialmente pela Adega de Alcobaça e pela Quinta dos Capuchos.
Alcobaça, um concelho de culturas e de tradição gastronómica que sabe receber e oferecer qualidade e excelência aos visitantes. Não passe sem cá voltar!

 

Última Atualização 03 outubro, 2024
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